
terça-feira, 12 de abril de 2016
Caderno das oportunidades perdidas

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
Cratofilia* digital
Porque toda relação precisa ter uma vítima e um algoz.
Porque toda relação só pode ser analisada pelo viés do poder e do controle. Não existe pai e mãe. Não existe amigo e amigo ou amiga e amigo ou amiga e amiga. Não existe professor e aluno, nem colega e colega. Avó e neto, avô e neta. Só vítima e algoz. Acabou. Não insista.
Porque é impossível que qualquer vida ou relação pessoal e privada no planeta prescinda do meu julgamento moral sobre ela.
Porque para julgar é preciso se colocar num patamar superior e eu, infalível porque identificado com a persona sorridente e indefectível do meu facebook, estou aqui como supra sumo moral da humanidade para iluminar e levar a (minha) Palavra aos pobres de espírito.
Porque o meu ponto de vista é o único sempre foi o único e sempre será o único.
Porque eu generalizo grupos que me generalizam e acredito, de verdade, que estou lutando contra o "preconceito".
Porque é fácil apontar o dedo.
Porque a ironia nos salvará. Ou não.
RK
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
Memórias
É um tanto inusitado que, arrumando a casa na madrugada, você encontre pela primeira vez um CD feito por uma ex namorada, em 2007, com o título "I don´t know what to say, i´m sorry", com a data do dia em que ela foi embora da sua casa e da sua vida.
As músicas são de época, os sentimentos estão onde deveriam estar, no passado. Mas algumas questões badalam os sinos internos, a gente mergulha não no que era nem no que passou, mas no que deveria ter passado e se insinua no futuro. Não o sentimento personalizado, mas o padrão que como asas negras se insinua inconveniente sobre os envolvimentos mais recentes, sobre o que se foi, o que se é e o que disso tudo nos tornamos. Regurgitar emoções é necessário, papear com amigos, pingar a cara do sentimento desperdiçado, rir das tempestades e aceitar novos ventos. Tudo é um pouco limpeza, um pouco o artesanato arterial das escolhas, dos sacrifícios, num campo onde até o momento nada foi sacro nem fixo.
Vivemos mesmo esperando por dias melhores, maybe it´s just a little too late anyway, se a gente não fizesse tudo tão depressa, se não vivesse tudo tão depressa, mas o que me importa o seu carinho agora? Dont fight, dont argue, give me the chance to say that i am sorry. There´s something about the way you look tonight, killing me softly with this song. After all, i´ll give up forever to touch you ´cause i know that you feel me somehow. And she´s buying a starway to heaven. It makes me wonder... tomorrow it´s gona be too late. Wanna feel stronger, and love you longer. Please forgive me, i know now what i do. Things go on and on, baby when you´re gone. In the name of love, with or without you.
Viver. Acima e além de tudo. Viver. De novo e sempre e outra vez e eternamente. E outra manhã, e outro soco, e outro treino, e outro texto, amor, espera, olhar, outras páginas, outras almas e bocas e coxas, novos enamoramentos, desejos, trapaças, desesperos, chuvas de novos desmames, e viagens e cinemas e jantares, ainda outro e outro desejo para flambar sua alma na cama e não ser nada daquilo que prometia e ser tudo o que você precisava ver. E viver. Por hora.
E no meio de tanta gente, esperei você. Entre tanta gente chata sem nenhuma graça... seja eu, seja eu, deixa que eu seja eu, e aceita o que seja seu, então deita e aceita eu. Receba o que seja seu. Beija eu, beija eu me beija. Molha eu, seca eu, deixa que eu seja o céu e receba o que seja seu...
Anoiteça e amanheça eu, afinal, é impossível ser feliz sozinho.
Adiamentos
São tantos desafios simultâneos atropelando nossa atenção, nossos projetos e desejos que se afoga a vontade que não saiba debater-se em nado, para fora do nada, do vácuo aquoso da avalanche das circunstâncias. Vontade é chave e fechadura, tranca e rodopio, abertura e esperança. É um alvo pulsante, uma certa inquietação cardíaca das catacumbas daquele silêncio intestinal que evitamos ao longo do incêndio a que chamamos vida enquanto nos hipnotiza a chama que nos asfixia. A certeza de novos agoras, de novos hojes, de um amanhã aprazível em que possamos adormecer nossos sonhos cauteriza a ferida da vida adiada, do potencial atrasado, do futuro espremido entre os dias cada vez menores. Enganamos nossa esperança e com ela se esvai aquela energia primal, ardente e ritmada da cadência sanguínea, do fluxo do que devemos ser. O maior pecado é o adiar-se a si mesmo.
Renato Kress
Renato Kress
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
TretaBoísmo
Ideias sobre as quais temos total liberdade de mudar de opinião no futuro:
1. Só entre em boas tretas.
2. Lute pelo que acredita, não por tudo o tempo todo. Isso é idiota, te cansa e te enfraquece.
3. Tempo e energia são recursos limitados: não desperdiçarás!
4. Escolha suas batalhas. Viva seus descansos.
5. Espere o melhor, prepare-se para o pior e aprenda com o que chegar.
6. Todo excesso é patológico. Deboas demais te entrega um AVC, Tretas demais dão ataque cardíaco.
7. Só a pessoa que mora no seu espelho pode dizer o que você é e o que você deve ou pode. Se não foi essa pessoa que falou, amorosamente ignore.
8. Pense sempre antes: Vale a pena? Se sim, sim. Se não, não. Soque ou abrace forte.
9. Revolte-se quando for necessário. Não tolere injustiças. A ninguém.
10. Trate como gostaria de ser tratado. Se não for possível caia fora. Na dúvida, ame.
11. Quem você acha que é para julgar quem quer que seja? Julgue-se e tome conta da sua vida. Contente-se em ter autoridade sobre você. Já é suficiente.
quarta-feira, 20 de maio de 2015
Inesperado
Eles querem que você odeie crianças. Querem que não critique seu abandono. Que aceite e naturalize a menos-valia do pobre e do negro. Querem te sensibilizar e irritar, criando um senso de identidade que te segrega do resto do mundo. Que crie um nós artificial e nele se enforque. Eles querem privatizar as cadeias, gerar mão de obra escrava, terceirizar os direitos trabalhistas e privatizar o amor. Querem que não pense e que, por não pensar, se sinta irritado e tenso quando a vida te forçar a ver mais do que as respostas patrocinadas. Eles te darão chavões e palavras de ordem para te livrar do árido trabalho de pensar por si só. E se você for acomodado e covarde o suficiente, vai mergulhar na esquizofrenia dos nós que segregam, dos nós que delimitam e que criam sempre uma camada de vidas válidas e um estrato biológico de subvidas negras e pobres, desimportantes. Eles querem que você esqueça que essas vidas pulsam desejo e amor como você, que essas vidas pulsam aceitação, olhar, vida. E se você se distanciar o suficiente, no seu quadradinho de cimento, atrás do vidro, da grade, da versão oficial dos fatos - aquela contada por quem lucra com a visão oficial das fraturas - você será o cidadão padrão: agressivo, competitivo, pró-ativo, reativo, instintivo, projetando toda sua carência existencial, afetiva, intelectual e social em consumo. Você será uma ilha. Não a ilha da bem-aventurança que te venderam no comercial sorridente, mas a ilha do medo, da ansiedade, do antidepressivo, da tensão constante, da desistência de si mesmo. Eles querem que você suporte tudo sem dar um pio. Reclamações são sinal de "imaturidade" e falta de "resiliência". Invertem a lógica da vida. Para eles quem tem forças para lutar não é "resiliente" o suficiente, ainda não desistiu completamente. Eles querem que você acredite que se ainda não desistiu, você ainda é infantil. Logo eles, que querem transformar todos os anseios humanos, toda a riqueza das nossas almas e experiências em consumo, eles que nos vendem a certeza (pueril) de que sem desistência não dá pra ser feliz. Sinceramente? Quer mesmo irritá-los? Seja o inesperado.
Vaidade
- Você é vaidoso, não?
> Sim, as pessoas tem características e essa é uma minha. Perceber ela te envaidece de que maneira mesmo?
Renato Kress
> Sim, as pessoas tem características e essa é uma minha. Perceber ela te envaidece de que maneira mesmo?
Renato Kress
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