domingo, 26 de abril de 2015

Sem pressa

Eu queria amar sem pressa. Sem a necessidade desse viver voraz que consome minutos, experiências e tempos sem deixar maturar nada. Sem a expectativa dissolvente de que cada latejar de oportunidade vai sumir no primeiro piscar de olhos. Eu queria amar sem pressa.

Eu queria olhar sem pressa. Sem essa concepção fluida de que o mundo está de passagem, e com ele as pessoas e os átomos e os planetas e as galáxias girando e correndo em círculos infinitos. Sem a ideia de que eu também sou passagem e, acreditando nisso, me torno um borrão tímido. Eu queria olhar sem pressa.

Eu queria amar sem ânsia. Saber colocar pé ante pé em cada um dos estratos entre a superfície e o abismo, entre o hoje e o amanhã, e o depois de amanhã, e o futuro incerto, móvel e turvo como as profundezas do oceano. Saber conspirar embaixo d´água. Eu queria amar sem ânsia.

Eu queria olhar sem ânsia. Saber delinear a silhueta do destino sem vontade de decifrar, só pelo prazer do olhar, saber abrir a boca de espanto perante o universo sempre novo que se apresenta diante de mim sem o cinismo e o ceticismo dos nossos dias. Eu queria olhar sem ânsia.

Eu queria uma vida dessas. Dessas de quem ama sem pressa.

Renato Kress

Nenhum comentário:

Postar um comentário